terça-feira, 14 de julho de 2015


Não Sou um Homem, Sou uma Dinamite
Tenho conhecimento do meu destino.
Algum dia se associará ao meu nome a lembrança de algo terrível – de uma crise como jamais outra existiu na terra, da mais profunda colisão de consciência, de uma decisão proferida contra tudo aquilo que, até hoje, foi objeto de fé, de exigência e de sacralização. Não sou um homem, sou uma dinamite.
– E com tudo isto nada há em mim de um fundador de religião – as religiões são afazeres da ralé, e eu preciso sempre de lavar as mãos depois de estar em contato com homens religiosos...
Nada quero com «crentes», penso que sou demasiado malicioso para acreditar em mim mesmo; nunca falo às massas...
Sinto uma angústia aterradora de que, um dia, me venham a canonizar; adivinhar-se-á porque é que antes publico este livro; ele impedirá que comigo se cometam patifarias...
Não quero ser santo algum, prefiro antes ser um arlequim...
Sou porventura um arlequim... E apesar disso ou, antes, não apesar disso – pois, até hoje, nada houve de mais mentiroso do que um santo – a verdade fala por meu intermédio.
– Mas a minha verdade é temível: com efeito, até hoje, chamou-se a mentira verdade.
– Friedrich Wilhelm Nietzsche, in Ecce Homo.


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